Não sei muito bem o que dizer num momento como esse. O fato é que queria estar aí, ao seu lado, ajudando-te de alguma forma.
Apesar de não termos certeza, inicio minha fala com um “talvez tenha sido melhor assim”. Recordo-me bem de Rubem Alves, que certa vez tratou de sua experiência como ser humano da seguinte maneira: “nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais”. A vida humana não se define, para ele, biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia. Mário Quintana, por sua vez, proferiu: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver!".
Senhor Abílio, vulgo Seu Didi, sofrera bastante e merecia enfim descansar. Foram anos de luta.
Nessas horas é difícil não se apoiar em algo reconfortante, que justifica tal acontecimento – que venha a religião então. Independentemente da crença, sempre se explica que o sofrimento vivido aqui será de algum modo compensado: filosofias orientais, por exemplo, crêem na reencarnação, uma espécie de retorno de nossa alma, possivelmente centenas de vezes, para viver novamente e ser aperfeiçoada em consecutivas vidas; os “ocidentais” lembram-se do que Jesus ensinou: a existência não cessa com a morte; a morte é uma separação, e não o fim da existência da pessoa. Das escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias, são irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.
Quero finalizar este desabafo, ressaltando que me coloco na sua posição e compreendo sua dor. Espero ter conseguido repassar meus sentimentos através dessas escritas. Por favor, retransmita meus pêsames a todos os familiares.
Força!
“A morte é onde mora a saudade”. (Rubem Alves)