quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Meu nome é Cenoura



Oito de outubro de 2008. Cá estou, preso a minha terra.

Minha unidade de conta fica por conta dos R$ 3,00 por quilo meu...

Prazer, meu nome é cenoura! A propósito, injetaram-me no mercado.

Contudo, se a mula empaca, é hora do porrete.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

“A morte é onde mora a saudade”




Não sei muito bem o que dizer num momento como esse. O fato é que queria estar aí, ao seu lado, ajudando-te de alguma forma.
Apesar de não termos certeza, inicio minha fala com um “talvez tenha sido melhor assim”. Recordo-me bem de Rubem Alves, que certa vez tratou de sua experiência como ser humano da seguinte maneira: “nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais”. A vida humana não se define, para ele, biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia. Mário Quintana, por sua vez, proferiu:   "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver!".
 Senhor Abílio, vulgo Seu Didi, sofrera bastante e merecia enfim descansar. Foram anos de luta.
Nessas horas é difícil não se apoiar em algo reconfortante, que justifica tal acontecimento – que venha a religião então. Independentemente da crença, sempre se explica que o sofrimento vivido aqui será de algum modo compensado: filosofias orientais, por exemplo, crêem na reencarnação, uma espécie de retorno de nossa alma, possivelmente centenas de vezes, para viver novamente e ser aperfeiçoada em consecutivas vidas; os “ocidentais” lembram-se do que Jesus ensinou: a existência não cessa com a morte; a morte é uma separação, e não o fim da existência da pessoa. Das escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias, são irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.
Mesmo assim, de um modo geral, a morte é enxergada por nós como algo cruel. É algo de difícil aceitação, já que se trata de um mistério que alivia o homem de qualquer compreensão. Mas no fim das contas, a morte é simplesmente uma das etapas do ciclo. Isso é fato e temos que aceitá-lo.
Quero finalizar este desabafo, ressaltando que me coloco na sua posição e compreendo sua dor. Espero ter conseguido repassar meus sentimentos através dessas escritas. Por favor, retransmita meus pêsames a todos os  familiares.
Força!


 “A morte é onde mora a saudade”. (Rubem Alves)



sábado, 12 de dezembro de 2009

Alguns dos pecados capitais


Sinta o sabor -
O molho, o tempero -,
O cheiro.

Farte-se de luxúria
E gula e
Se lambuze.
 
Por fim,
Faça o provedor*
Orgulhoso de si
(Mim mesmo).

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Arroubamento de um espírito rubro-negro




Cá estamos: relacionando vidas psíquicas.

Em nosso cotidiano, achamos que a consciência é sabedora de tudo, é autônoma - e acabamos nos esquecendo de que ela está atrelada ao inconsciente. Nós, seres humanos, cremos saber o que é a sociedade e como ela funciona - acreditamos que adotamos determinado comportamento porque somos indivíduos livres, com poder para mudar o rumo das coisas do nosso jeito. No entanto, além de sermos o produto de nossa vontade, somos também o produto da organização e da estrutura da sociedade.

É justamente se adquirindo a consciência que cabe a nossa categoria, que se conceitua o nosso objeto: “Estado da pessoa que, tendo sido educada em condições sociais determinadas, se submete cegamente aos valores e instituições dadas, perdendo assim a consciência de seus verdadeiros problemas” (http://www.dicio.com.br/).

Hoje posso dizer que sou um semi-alienado. Um semi-alienado feliz.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Funeral


Em meio ao cemitério das vivências

 

Declaro morta mais uma parte da minha vida.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Conversa de Opiniões Falidas




Depois de um jantar, num restaurante qualquer, inicia-se a conversa:

Aline: Meu amor, o que você quer fazer agora? (tomara que ele queira vir até a minha casa)

Oswaldo: Eu quero ir até a sua casa. E você?

Aline: É. Eu também. Mas... Você tem certeza do que quer? Ou está concordando comigo de propósito só para me agradar? Diga-me o que você realmente quer fazer... (tomara que ele queira vir até a minha casa)

Oswaldo: “Ouxi”. Não sabia nem qual era sua opinião.

Aline: Não importa, pois você já suspeitava. Decida algo uma vez na vida, você não tem opinião própria? (tomara que ele queira vir até a minha casa)

Oswaldo: “Hein”? Eu o quê? Não posso querer ir com você até a sua casa?

Aline: Não, quando você o faz somente para me bajular. Quero ao meu lado um homem com personalidade... (porque ele não me puxa pelo braço e me leva até a minha casa?)

Oswaldo: Ok. Eu estava te agradando. Decidi-me que vou sozinho para a MI-NHA casa.

Aline: Está vendo! Eu sabia! Eu te amo, mas você nunca me diz o que está pensando. Isso me incomoda. Desde o começo que... Espera! Você está sendo irônico? (tomara que sim!)

Oswaldo: Eu? Imagina... Já vou, beijo.

Aline: Desculpe-me. Eu não queria dizer o que te disse. Não se vá! Vamos até a minha casa... (ai como sou burra)

Ela faz aquela cara de ser frágil, precisando de proteção.

Oswaldo: Ok, agora para mim tanto faz.

Aline: Não! Faça o que verdadeiramente for de sua vontade! (ai meu Deus, tomara que ele ainda queira vir comigo...)

Oswaldo: Ai ai ai... Quero ir até a sua casa com você. Mas minha paciência está se esgotando...

Aline: Tem certeza do que quer? Você não está simplesmente fazendo o que te digo? (eu fiz isso de novo?!)

Oswaldo: @%!@#$%¨*&!*@&%%$#%@! Mulheres...

sábado, 14 de novembro de 2009

Leite

Leite puro.
Bovino, caprino,
Sem açúcar,
Com chocolate.

Leite estudado.
Encadernado,
Sem conta,
Com reflexão.

Pinta de café com leite.

sábado, 7 de novembro de 2009

Relato de um pragmático amoroso





Quero me dedicar a você.
Amar é verbo ultrapassado - ingênuo. Não se encontra de modo apaixonado, daquele, do passado, amor até morrer. Amor além da morte, por sorte, é coisa de TV. Viva o amor pragmático! Quero me dedicar a você!
Destarte, eu te amo!



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Inocência




Às margens do rio,
Trago-lhe bagagens -
Pequenas bobagens e
Declaração sutil:
Amo-te!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ócio






T e n h o   l i m i t e s
E  n ã o  p r e t e n d o  s u p e r á - l o s .

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Retórica


     
            Oralidade que convence;
                                                Oralidade que transborda.
        E língua de bala, bica:

    De lábios lacrimosos

Oca, boca, balela.

sábado, 3 de outubro de 2009

A mudança no paradigma comportamental na pós-contemporaneidade e seu culto as relações superficiais




Se seu (sua) namorado (a) rompeu o relacionamento, não se desespere. Ouça conformada (o) a frase que diz “devemos ficar com quem quer ficar conosco”. Esse é um pré-requisito fundamental. 
Lembre-se que não há ninguém perfeito para você. O que existe é o “você perfeito”. Não devemos transferir a responsabilidade para o outro. Faça a sua parte, tome a iniciativa e tente ser perfeita (o) . Seja paciente, atenciosa (o), carinhosa (o) e companheira (o), alguém admirável, digna (o) de respeito. Se o outro não te valoriza assim, paciência – falta nele o que tem abundantemente em você.
Não há uma fôrma, ou ainda, uma única chave que consiga adentrar a fechadura (isso não é biologia) – não existe uma única pessoa capaz de nos tornar felizes. Somos plurais – e apesar de não nos relacionarmos tão bem o tempo todo, de não nos apaixonarmos por todo mundo, ainda há esperança quando nossa “alma-gêmea” rompe o relacionamento conosco. Características (tais quais personalidade, beleza, nível de renda etc.) pré-estabelecidas por nós como ideais numa pessoa são mutáveis, então os perfis dos nossos amores também mudam.
Não há uniformidade quando se trata dessa temática, mas se torna cada vez mais difícil encontrar relacionamentos duradouros. Para mim, essa não-profundidade é fortemente determinada pelo fortalecimento do individualismo, que prevalece nos dias atuais. Tenho notado que as pessoas só têm visado sua própria satisfação: uma espécie de valorização do homem distorcida – um humanismo às avessas. Se lhes for conveniente casar, casam sem pestanejar. Sai-se da casa dos pais, tornam-se “independentes”, possuidores de liberdade. E por qualquer discordância com seu companheiro (a), se separa. Não há esforço, ninguém renuncia a nada – socialistas mais capitalistas que nunca.
Por falar em modo de produção,  pode-se dizer que o capitalismo conseguiu mudar de maneira significativa o comportamento das pessoas: antes, por exemplo, existiam poucas famílias, porém numerosas. Hoje o quadro se reverteu: existem muitas famílias com poucos integrantes. Mais famílias refletem um maior nível de consumo na economia: são mais imóveis, carros e serviços demandados etc. Logo, o aumento propositado de consumo acabara contribuindo na redução de tolerância.
Conseguiram impor em nossas mentes que o consumo é a única variável que nos proporciona prazer. Isso é consolidação de capitalismo. Pouco me importa o outro. Eu, particularmente, não consigo enxergar separadamente o atual comportamento das pessoas e o sistema econômico vigente.
Não somos nem um pouco pragmáticos: tenho um aparelho telefônico móvel que atende a todas as minhas necessidades, mas a partir do momento em que lançam um novo aparelho no mercado, desfaço-me do meu. O consumismo planejado e a obsolescência interferem significativamente na superestrutura jurídica e na sociedade civil.
As empregadas domésticas estão em extinção - ao menos aquelas da época em que eu era criança. Elas sumiram porque se tornaram menos complacentes, como qualquer outro profissional; estão mais exigentes - ou fazem a faxina ou cozinham ou lavam a roupa. E mais, se forem repreendidas nunca mais retornam à sua casa. A moda agora é ser diarista. Trabalha-se na casa de três patrões, com menos vínculo e profundidade nas relações.
O técnico em informática, por sua vez, não se preocupa em ter o cliente para sempre: quando pode, tenta tirar proveito de uma dada situação.
Os relacionamentos já não são o que eram. Hoje tudo é muito efêmero, inclusive as relações sociais. Não há honra, companheirismo, compromissos verbais e uma série de virtudes que existiram outrora.
Como defensor das relações superficiais que não sou, faço as coisas do meu modo: procuro ser o filho ideal, o amigo ideal, o namorado ideal, o profissional ideal... A mudança individual transforma o nosso meio e pode transformar toda uma cultura (“simbora Pareto, é nóis”).

sábado, 26 de setembro de 2009

homini


Humanidade espúria,
Que enaltece anóveas de axiologia
E abstém-se de méritos efetivos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

De chateação


Passageiro carinho,
De cara estranha,
Para dentro.

Parece que adentro
Por outro caminho,
Tamanha façanha,
Talento marinho.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009



Hoje tudo me dá azia.
Trancado em meu quarto,
Ainda estou aqui, farto
De tanto ficar só
E tentando desatar o nó
De minha precoce velhice;
De minha mesmice;
De meu esquecimento;
De minha solidão.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Abstrações Desnecessárias


Lembro-me de certa vez que estava cá, conversando com meus botões. Em determinado momento me veio à mente a clássica imagem do anjo e do diabo, um de meu lado direito, o outro do esquerdo. Eles apareciam (e continuam aparecendo) inúmeras vezes, quando precisava (e continuo precisando) tomar alguma decisão.

Um deles poderia me sugerir que atravessasse o caminho “a”, mais curto, porém perigoso¹. Isso tornaria o trajeto mais interessante para muitos, afinal de contas diz-se que o risco é algo atraente; o outro, por sua vez, me apontaria o caminho “b”, mais longo, porém mais seguro².

Soa estranho o fato de algo ser mais fácil e ao mesmo tempo se ter menos probabilidade de dar certo; não menos estranho é pensar em algo difícil com menos chance de se concretizar num erro. Mas essa é a lógica que funciona, por exemplo, no mercado financeiro: se se escolhe investir num ativo de alto risco, sua remuneração será maior - caso o negócio dê certo.


Estudiosos da heurística certamente ririam deste tipo de tomada de decisão: escuto que personagem numa hora dessas? O anjo? O diabo? Ignoro a empiria e meus conhecimentos de passado? Ignoro também minhas expectativas e conhecimentos de futuro? Por um segundo esqueço-me de parâmetros de um mundo “real” e divago numa esfera - metafísica dogmática - que não compreendo, e, para falar a verdade, não provo que existe.

Se eu procuro escutar o anjo, esse “triálogo” – entre mim, o anjo e o capeta – pode ser reduzido (em termos quantitativos) a uma simples conversa entre mim e Deus, onde eu sou o insensato, sempre (por ser humano, passível de erro). Deus é o sensato nesta relação, não há dúvidas. Ou seja, três é igual a dois!

O fato é que nós, seres humanos, quando nos deparamos com uma escolha, hesitamos inicialmente: escolho o que proporciona exclusivamente o meu prazer? Penso no bem-estar de mais alguém? Mais que isso, proporciono bem-estar alheio? A partir daí, creio eu, surgiram alguns conceitos de atitudes corretas e incorretas, quando não se é e quando se é egoísta, respectivamente.

Creio que minha conversa com Deus se materializa quando converso comigo mesmo, com meu lado possuidor de bom senso. Afinal de contas sou gente, pecador, mas uma parte de mim é boa. Você me permite acertar de vez em quando? Justo eu, pessoa como outra qualquer, preocupada com a satisfação de minhas necessidades (e que possuo também um lado insensato!)! E o questionamento paira.

Essa tal de insensatez (“trialógica”), aos poucos, começa a se/me confundir. Retorno de minhas abstrações desnecessárias, após a percepção do ciclo. E aos poucos esqueço esta conversa, de cá.


1-“Perigoso” denota aqui maior grau de risco.

2-“Seguro” denota aqui menor grau de risco.

sábado, 22 de agosto de 2009

Cobiça


Contente-se com o troféu invisível, que ninguém vê.

Exibi-lo provoca cobiça.