segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sem título

Lá do alto
só ar intragável,
que não se respira;
os olhos ardem, nada se vê,
só se sente o bafo gelado no cangote
e a vontade da morte; o ar não propaga o som,
inicia-se o isolamento. Perdido no céu, salvo pelo inferno.

Paraty




I

Logo de cara o vento frio,
uniformidade cinza no firmamento;
marés inundam corredores históricos de
Paraty.
Contrastam, pois, com os coloridos balões
que saíram apenas da imaginação,
mas não possuem contexto,
nunca voaram.


II

Uma a uma, lado a lado,
cálices rubras e amarelas,
bem abertas, murcham  
e assumem coloração vermelho-vinho,
feito balões chineses
que brotam no jardim da pousada
em que repousam
os viajantes.


III

Montanhas irlandesas
(de verdes tão lindos)
temperadas por fumaças de névoas,
que ocultam as escadas que nos levam ao paraíso,
cume por dentre as nuvens,
de sobreposições diferentes:
na frente, nimbos;
por cima, neblina.


IV

Senzala - habitação, povoação
e residência de casas antigas
em ruas de pedra, batentes altos
e portas
e janelas de madeira.
Provocam mau jeito nos pés,
curados com facilidade
pelo samba das baías (olê lê, olá lá).


V

E tome rechaça
e cachaça para afogar
as mágoas
e comemorar
os doces da vida:
caçarola, quebra-queixo,
pra tudo na vida tem um jeito.
Amiúde, alude,
viva a brasilidade!


VI

Esse ar de colônia,
de escravidão, preto,
de alusão ao Imenso Portugal,
de batuques, corredores,
de capoeira, embolada,
de emboscadas e de revoltas
desenhadas em mapas
e guias para turista ver.



O gigante acordou



Hoje acordei querendo provar
não a práxis da madura teoria,
não a ideologia caduca do pragmatismo.
Acordei querendo persuadir
os mais eloquentes debatedores,
silenciar ainda mais os mortos
(e cantar para quem interpreta, compõe).
Quimera, quem me dera,
Confiança que se impõe.
Hoje eu acordei feliz.