Mais um domingo.
Dia de reunião com a banda.
Direcionava-me ao estúdio para gravar algumas canções e me deparei, através do pára-brisa de meu carro, com a luz do sol poente. Não se tratava de um tipo de claridade ordinária - aquela iluminação não aparece n’outro dia da semana, ou ainda, ao despertar do dia.
E aquela imagem poética não me saía da cabeça. Tinha um “quê” de coisa singular: iluminada, abençoada. Era contemplada com um tipo de benção às avessas, por se tratar de algo que transparecia onisciência e tristeza. Pareceu-me conhecedor de tudo, ou ao menos de muita coisa. Parecia também saber que a humanidade não tinha mais jeito – “ela se perdera em meio ao caminho rumo à riqueza das nações, sei lá”.
Exercício de prioridades erradas de uma maioria em nome de uma prioridade certa (ou ao menos lógica) de uma minoria. Na verdade nós (a maioria) nos desgastamos muito para sobreviver. Submetemo-nos às regras colocadas pela minoria para conseguirmos ou nos mantermos num emprego qualquer. O trabalho nos dias atuais sofre uma exploração diferente de outrora. Antes, bem antes, nosso cansaço era estritamente físico. Hoje, somado a isso, nos deparamos com uma exploração intelectual, e o conseqüente cansaço mental. E lá de cima se contorce o sábio, crítico e ressacado sol de domingo.
“Procure o equilíbrio: não descanse demais, não trabalhe demais”, o sol praticamente me ordenara. Aliado a isso, desfaço-me de pensamentos de tempos em tempos para descongestionar esta rodovia de informações, senão enlouqueço. Desta forma sou menos condicionado por esta natureza, torno-me mais autônomo.
Não deveríamos sofrer por excesso de obrigações. Selecione-as. Ah, o sofrer de certo alguém, refletido neste sol poente de domingo...