quinta-feira, 28 de maio de 2009

“Entre o manto opaco da hipocrisia e a nudez forte da verdade”


A nudez nos liberta de tanta coisa! Outro dia tive o privilégio de andar nu pela cidade: na verdade, correr e nadar nu. Fingi ao menos uma vez ser realmente o que sou, um animal. Eu nasci, mas não cresci assim Gabriela. Nasci sem roupa, sem pudor e impuseram-me um comportamento o qual não me adeqüei ainda. Viva a nudez da verdade, como Sabino dizia! (o fato é que só gostei do propósito do camarada)

Naquela noite, não precisei me vestir para provar que era normal, não me escondi para provar aos estranhos que sou humano. Afinal de contas, sou um bicho. Sou um inseto qualquer, sou ser vivo do reino dos animais, sou pessoa. Roupas não deveriam me enquadrar numa categoria. Elas deveriam me aquecer, proteger-me, deveria ser opção. A desnudez é uma mentira, uma convenção, um julgar não-adequado.

Andar nu em casa ou tomar banho com os filhos, por exemplo, não constitui um problema. Normalmente este tipo de comportamento faz com que as crianças passem a enxergar a sexualidade com maior naturalidade, sem associá-la ao pecado ou vergonha.

Não se trata de uma nudez exibicionista, nem puramente física. A nudez (a verdade, nua e crua) é inerente ao ser humano. Assim como a mentira, parece-me. Temos que ter sabedoria para discernir uma coisa da outra, temos que ser críticos para vivermos nus e nos utilizarmos o máximo possível da verdade. É um árduo caminho e, como dizia Nietzsche, “só os fortes conseguem”.

Apesar de utilizar-me de vestimentas, continuo assim, “pelado, pelado, nu com a mão no bolso” em espírito. Não posso ser processado por atentado ao pudor, de tipologia mental!

Um comentário:

  1. Excelente relato.

    É alienígena a forma com a qual enxergamos a naturalidade das roupas em detrimento da condenação ao estar-despido. Especificamos metricamente e impomos regras rígidas aos horários, locais e contextos da permissão para a nudez.

    Infelizmente, isso não é uma questão atual. Desde que o homem tomou consciência de si, passou a utilizar vestimentas e adornos com objetivos que transcendiam a proteção às intempéries ambientais. Ela já hierarquizava. Estabalecia padrões esperados de conduta ou da falta dela. Enfim.

    Mas é realmente belo o momento rebelde do despir-se. E eles realmente nos deixam "'pelados, pelados, nus com a mão no bolso' em espírito".

    Carpe Noctem. Permita-se.

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