sábado, 3 de outubro de 2009

A mudança no paradigma comportamental na pós-contemporaneidade e seu culto as relações superficiais




Se seu (sua) namorado (a) rompeu o relacionamento, não se desespere. Ouça conformada (o) a frase que diz “devemos ficar com quem quer ficar conosco”. Esse é um pré-requisito fundamental. 
Lembre-se que não há ninguém perfeito para você. O que existe é o “você perfeito”. Não devemos transferir a responsabilidade para o outro. Faça a sua parte, tome a iniciativa e tente ser perfeita (o) . Seja paciente, atenciosa (o), carinhosa (o) e companheira (o), alguém admirável, digna (o) de respeito. Se o outro não te valoriza assim, paciência – falta nele o que tem abundantemente em você.
Não há uma fôrma, ou ainda, uma única chave que consiga adentrar a fechadura (isso não é biologia) – não existe uma única pessoa capaz de nos tornar felizes. Somos plurais – e apesar de não nos relacionarmos tão bem o tempo todo, de não nos apaixonarmos por todo mundo, ainda há esperança quando nossa “alma-gêmea” rompe o relacionamento conosco. Características (tais quais personalidade, beleza, nível de renda etc.) pré-estabelecidas por nós como ideais numa pessoa são mutáveis, então os perfis dos nossos amores também mudam.
Não há uniformidade quando se trata dessa temática, mas se torna cada vez mais difícil encontrar relacionamentos duradouros. Para mim, essa não-profundidade é fortemente determinada pelo fortalecimento do individualismo, que prevalece nos dias atuais. Tenho notado que as pessoas só têm visado sua própria satisfação: uma espécie de valorização do homem distorcida – um humanismo às avessas. Se lhes for conveniente casar, casam sem pestanejar. Sai-se da casa dos pais, tornam-se “independentes”, possuidores de liberdade. E por qualquer discordância com seu companheiro (a), se separa. Não há esforço, ninguém renuncia a nada – socialistas mais capitalistas que nunca.
Por falar em modo de produção,  pode-se dizer que o capitalismo conseguiu mudar de maneira significativa o comportamento das pessoas: antes, por exemplo, existiam poucas famílias, porém numerosas. Hoje o quadro se reverteu: existem muitas famílias com poucos integrantes. Mais famílias refletem um maior nível de consumo na economia: são mais imóveis, carros e serviços demandados etc. Logo, o aumento propositado de consumo acabara contribuindo na redução de tolerância.
Conseguiram impor em nossas mentes que o consumo é a única variável que nos proporciona prazer. Isso é consolidação de capitalismo. Pouco me importa o outro. Eu, particularmente, não consigo enxergar separadamente o atual comportamento das pessoas e o sistema econômico vigente.
Não somos nem um pouco pragmáticos: tenho um aparelho telefônico móvel que atende a todas as minhas necessidades, mas a partir do momento em que lançam um novo aparelho no mercado, desfaço-me do meu. O consumismo planejado e a obsolescência interferem significativamente na superestrutura jurídica e na sociedade civil.
As empregadas domésticas estão em extinção - ao menos aquelas da época em que eu era criança. Elas sumiram porque se tornaram menos complacentes, como qualquer outro profissional; estão mais exigentes - ou fazem a faxina ou cozinham ou lavam a roupa. E mais, se forem repreendidas nunca mais retornam à sua casa. A moda agora é ser diarista. Trabalha-se na casa de três patrões, com menos vínculo e profundidade nas relações.
O técnico em informática, por sua vez, não se preocupa em ter o cliente para sempre: quando pode, tenta tirar proveito de uma dada situação.
Os relacionamentos já não são o que eram. Hoje tudo é muito efêmero, inclusive as relações sociais. Não há honra, companheirismo, compromissos verbais e uma série de virtudes que existiram outrora.
Como defensor das relações superficiais que não sou, faço as coisas do meu modo: procuro ser o filho ideal, o amigo ideal, o namorado ideal, o profissional ideal... A mudança individual transforma o nosso meio e pode transformar toda uma cultura (“simbora Pareto, é nóis”).

7 comentários:

  1. Acho boa parte da sua visão verdadeira, mas considero uma importante parte, um tanto pessimista. Acho que o problema não é que os relacionamentos mudaram, a questão é que eles diminuiram consideravelmente, restando apenas relações visíveis. Os relacionamentos são encobertos, quase envergonhados de ainda existirem diante de todo o preconceito e derrotismo instalado no discurso da sociedade, hoje infeliz, por quase não ter tal privilégio. O que deveria ser motivo de alegria, passa a ser a vergonha. Mas existem sim, o companheirismo, compromissos ainda que verbais e virtudes como a capacidade de perdoar e a paciência. Só não pode dar muita pinta... rs.

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  2. Um grande problema são as projeções. 'Eu amo em você o que queria ter em mim'. Ou 'queria que você fosse o que não consigo ser'. Ledo engano... Deveríamos amar o que é do outro, o que ele tem de melhor, já que perfeitos também não somos =)
    Belo e corajoso, seu texto.

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  3. Muito bom o texto!!!

    Nunca a sociedade (brasileira) mudou de forma tão rápida quanto atualmente. Mudanças que durariam 15, 20 anos, tão ocorrendo em 5,10... Tudo graças ao avanço tecnológico, como a internet, tv via satélite etc. Até GUERRAS ao vivo eles já estão transimitindo.
    As empregadas domésticas estão em extinção porque o Brasil tá avançando e melhorando a cada ano. A nossa Constituição Federal de 88(cidadã), cheeeia de emendas, porém garante e assegura Direitos e Deveres aos cidadãos. As leis trabalhistas, criadas e cumpridas.
    Agora, para se ter empregada doméstica (e disso até elas sabem), não basta querer. As famílias devem ter DINHEIRO e arcar com todos os ônus de se ter um empregado ao seu dispor. Não há mais espaço para as empregadas nas famílias de classe méida como era antigamente. E isso já ocorre há muuuuito tempo nos países desenvolvidos como os EUA, Canadá e muitos da Europa.
    No mais, parabéns pelo seu texto. Concordo com suas colocações. A propósito, muito bem escrito.
    =]

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  4. ...e o mundo precisa de mais pessoas com você!

    =)

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  5. Bom, eu concordo com suas colocações. Só gostaria de acrescentar que, nós, seres humanos, somos extremamente interesseiros. Tudo que está a nossa volta tem que te dar um prazer, ou razão de continuar querendo ter o objeto desejado.
    Se tivermos uma amizade com alguém, o mínimo de interesse é q essa pessoa faz você se sentir bem. Não se fika perto de alguém que temos antipatia, ou que nos deixam tristes.
    O mesmo pode se atribuir ao amor. Esse sim é um sentimento egoísta e interesseiro. Vc só ama alguém porque essa pessoa a quem atribuímos tal sentimento, nos dá algo em troca, reciprocidade. Vc só estará amando aquela pessoa se ela te der atenção, carinho e todas as melosidades de quem esta amando. A partir do momento que vc se sente rejeitado, que percebe q não está recebendo nada em troca vc larga a pessoa e supera. (...de alguma forma sempre superamos...) Sempre achará outra pessoa para um novo interesse, é inevitável.
    Ai é que vem uma pergunta crucial. Enquanto as pessoas q quando rejeitadas acabam gostando mais ainda do outro? Eu diria que são masoquistas. É tudo psicológico. Nosso subconsciente pode gostar d sofrer, assim nos da a oportunidade de manter a mente ocupada. Sempre arquitetando porque não se pode ter tal pessoa, e fika se martirizando e insistindo... Interesse em continuar sofrendo. Também é uma reação a rejeição. Querer provar que é boa o suficiente para ser amada... Interesse em superação.
    Resumindo, somos todos interesseiros e não há nada ruim nisso. Se não, hoje nenhum d nós existiríamos. Religiosamente falando, se Adão não tivesse o interesse de ter uma companheira para finalmente se sentir completo ele seria até hoje triste...

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  6. A nossa própria satisfação de necessidades - o egoísmo - certamente é o princípio do mundo.

    Segundo Schopenhauer trata-se do cego, do irracional, do inconsciente: é a vontade de vida. A pluralidade dos fenômenos empíricos nada mas é do que sua manifestação no espaço, no tempo e na causalidade. O problema é que estes fenômenos podem ser constituídos de desavenças.

    Para Hobbes, por exemplo, no estado de natureza vivíamos em constante clima de insegurança, por motivos parecidos: uma disputa de quereres entre os homens, num ambiente sem leis, tende a ser um ambiente de guerra de todos contra todos - "o homem é o lobo do homem".

    Ou seja, não conseguimos minimizar os conflitos se sempre massacrarmos o interesse geral em nome de individualidades.

    Não faço apologia ao socialismo; só acho que faz sentido termos bom senso.
    Não falo em não nos satisfazermos; falo numa busca do equilíbrio.

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  7. Simplismente maravilhoso! Adorei Luiz, adorei.

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