sábado, 26 de junho de 2010

Uma certa descrença


Ingresso para a filosofia: por meio do seu discurso se pode evitar a adoção precoce d’uma doutrina como sendo verdadeira; anti-dogmatismo.

Trata-se, pois, d’uma experiência intelectual. Depois de muito meditar sobre diversas vertentes (filosóficas, econômicas, sociais, religiosas etc.), o homem acaba por conhecer inúmeras teses e pensadores. Deste modo, coloca-se numa delicada situação - optar por apenas uma das teorias, árdua tarefa. 

Dado que todas as teorias são bem estruturadas e persuasivas, pergunta-se: será que há uma única teoria verdadeira?




Depois d’uma experiência como esta, o homem já não é o mesmo. Tornara-se mais rigoroso no raciocínio, exigente para avalizar. E é, ao mesmo tempo, mais aberto para os dois lados de uma questão, mais sensível as diferentes perspectivas.

Agora mais tolerante, o homem se entrega às tarefas cotidianas sem sentir vergonha ou diminuição por isso. A imersão cética na vida cotidiana associa-se a uma visão igualitária do ser humano.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Destruição criadora

Pressinto a perda de minhas motivações;

Percebo pelos sentidos minha enxaqueca.



Contudo teimo em dizer que sou independente

E insisto não por orgulho, mas por amor próprio.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Entrelinhas


Muito se fala sobre a influência ideológica do capitalismo no nosso dia-a-dia. Outro dia, li num artigo uma possível relação desta natureza. O meio de comunicação da vez era o gibi, mais precisamente histórias do Donald e Tio Patinhas. No artigo, Danton falava sobre a obra de Dorfman e Mattelart, “Para Ler o Pato Donald”.



1. Quanto às relações

Não há nenhum vínculo familiar direto nas histórias do Pato Donald e amigos. Trata-se de histórias entre tios, primos, sobrinhos etc.
Os personagens são movidos apenas pela ambição do dinheiro, sem relações de amizade desinteressada. O amor de Margarida, por exemplo, é baseado em relações de interesse (quase sempre financeiro), conforme o seguinte trecho:

Margarida: se você me ensina a patinar esta tarde, darei uma coisa que você sempre desejou.
Donald: Quer dizer... ?
Margarida: Sim... A minha moeda de 1872.
Sobrinho: Uau! Completaria nossa coleção de moedas, Tio Donald!

No mundo de Disney, ser mais rico ou mais belo dá imediatamente o direito de mandar nos outros.

2. Metáforas

Patópolis representa os EUA e todos os povos não-americanos são não-civilizados, ou seja, representam o terceiro mundo. É muito fácil ludibriá-los com quinquilharias.
            Dentre as diversas morais da história, uma clássica:
“Numa aventura Donald parte para Congólia. Lá os negócios do Tio Patinhas estão sendo prejudicados porque o rei proibiu seus súditos de se darem presentes de Natal, pois todo o dinheiro deve lhe ser entregue. Ao chegar do avião, o pato é tomado por um Deus e acaba destronando o rei. Sua primeira ação é ordenar que todos comprem presentes para suas famílias. Quando os armazéns de Tio Patinhas estão vazios, Donald devolve a coroa do rei, agora mais sábio do que antes. O governante aprendeu que, para se manter no poder, precisa se aliar ao capitalismo internacional”.

3. Analogias

A luta de classe é ridicularizada, conforme a história em que um grupo de hippies está fazendo uma manifestação contra a guerra: quando Donald oferece uma limonada de graça, a passeata se desfaz imediatamente.
Donald é em várias histórias massacrado pelo Tio Patinhas, no entanto ele não se rebela. Não o faz porque tem esperança de um dia herdar a riqueza do Tio. Assim como a América latina tem esperança de se tornar um dia um país desenvolvido.

4. Controvérsias

Algumas pessoas acusaram Dorfman e Mattelart de alterarem o conteúdo de algumas das falas, conforme o conveniente em sua argumentação.
Além disso, não sabemos até que ponto essa ideologia tenha tido origem “capitalista”, visto que, aparentemente, o conteúdo ideológico de direita vinha do desenhista, Carl Barks, não do patrão. Barks odiava Marx.


Por que embutir de ideologias desenhos animados e gibis? Provavelmente para atuar como agentes do imperialismo norte-americano – segundo Dorfman e Mattelart -, ao anular a vocação revolucionária que existe em toda criança, e, deste modo, tirá-las do caminho rumo ao Socialismo.
Exagero ou não, o interessante é que, com este exemplo, ampliemos nossa percepção sobre o porquê das coisas. Não aceite nada sem reflexão e crítica.