quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Frenesi

Da beleza feminina,
Angústia que dá
De tanto desejo contido,
Da monotonicidade.

Já nem sei se há parcimônia,
Pois defronte a vós, mulheres,
De tanto desejo contido,
O que vivencio é puro frenesi.

Por conseguinte,
O lado pensante
Se delicia na observação;

O lado bicho, por sua vez,
Aflora, afauna, vegeta:
Natura.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Decolagem


Cálido, pálido, gélido -
Sobe pelas pernas.
Emaranhado, engalhado -
Sobe pelos ares.

Sem conformidade característica,
Aconselho-te que não caias.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sobre Meu Jardim


As flores já não são o que eram.
Muito menos as rosas.

A breguice aos poucos se desfaz e
O mundo não se torna menos triste por isso.
Sem pétalas o boêmio não recita seu verso,
Não toca sua viola, nem ao menos brinda.

Guardo no coração momentos os quais semeei,
Vi crescer e se esfacelar todo o meu jardim.
Guardo no coração o romantismo, a amizade e
A paradoxal relação dessa relação.

Frutos surgirão, quiçá outras flores.
Contudo, Rosas como nós...
Os Rosas!
Isso não há de surgir!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Por-do-sol





Mais um dia comum.
Mais um domingo.
Dia de reunião com a banda.
Direcionava-me ao estúdio para gravar algumas canções e me deparei, através do pára-brisa de meu carro, com a luz do sol poente. Não se tratava de um tipo de claridade ordinária - aquela iluminação não aparece n’outro dia da semana, ou ainda, ao despertar do dia.
E aquela imagem poética não me saía da cabeça. Tinha um “quê” de coisa singular: iluminada, abençoada. Era contemplada com um tipo de benção às avessas, por se tratar de algo que transparecia onisciência e tristeza. Pareceu-me conhecedor de tudo, ou ao menos de muita coisa. Parecia também saber que a humanidade não tinha mais jeito – “ela se perdera em meio ao caminho rumo à riqueza das nações, sei lá”.
Exercício de prioridades erradas de uma maioria em nome de uma prioridade certa (ou ao menos lógica) de uma minoria. Na verdade nós (a maioria) nos desgastamos muito para sobreviver. Submetemo-nos às regras colocadas pela minoria para conseguirmos ou nos mantermos num emprego qualquer. O trabalho nos dias atuais sofre uma exploração diferente de outrora. Antes, bem antes, nosso cansaço era estritamente físico. Hoje, somado a isso, nos deparamos com uma exploração intelectual, e o conseqüente cansaço mental. E lá de cima se contorce o sábio, crítico e ressacado sol de domingo.
“Procure o equilíbrio: não descanse demais, não trabalhe demais”, o sol praticamente me ordenara. Aliado a isso, desfaço-me de pensamentos de tempos em tempos para descongestionar esta rodovia de informações, senão enlouqueço. Desta forma sou menos condicionado por esta natureza, torno-me mais autônomo.
Não deveríamos sofrer por excesso de obrigações. Selecione-as. Ah, o sofrer de certo alguém, refletido neste sol poente de domingo...

sábado, 26 de junho de 2010

Uma certa descrença


Ingresso para a filosofia: por meio do seu discurso se pode evitar a adoção precoce d’uma doutrina como sendo verdadeira; anti-dogmatismo.

Trata-se, pois, d’uma experiência intelectual. Depois de muito meditar sobre diversas vertentes (filosóficas, econômicas, sociais, religiosas etc.), o homem acaba por conhecer inúmeras teses e pensadores. Deste modo, coloca-se numa delicada situação - optar por apenas uma das teorias, árdua tarefa. 

Dado que todas as teorias são bem estruturadas e persuasivas, pergunta-se: será que há uma única teoria verdadeira?




Depois d’uma experiência como esta, o homem já não é o mesmo. Tornara-se mais rigoroso no raciocínio, exigente para avalizar. E é, ao mesmo tempo, mais aberto para os dois lados de uma questão, mais sensível as diferentes perspectivas.

Agora mais tolerante, o homem se entrega às tarefas cotidianas sem sentir vergonha ou diminuição por isso. A imersão cética na vida cotidiana associa-se a uma visão igualitária do ser humano.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Destruição criadora

Pressinto a perda de minhas motivações;

Percebo pelos sentidos minha enxaqueca.



Contudo teimo em dizer que sou independente

E insisto não por orgulho, mas por amor próprio.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Entrelinhas


Muito se fala sobre a influência ideológica do capitalismo no nosso dia-a-dia. Outro dia, li num artigo uma possível relação desta natureza. O meio de comunicação da vez era o gibi, mais precisamente histórias do Donald e Tio Patinhas. No artigo, Danton falava sobre a obra de Dorfman e Mattelart, “Para Ler o Pato Donald”.



1. Quanto às relações

Não há nenhum vínculo familiar direto nas histórias do Pato Donald e amigos. Trata-se de histórias entre tios, primos, sobrinhos etc.
Os personagens são movidos apenas pela ambição do dinheiro, sem relações de amizade desinteressada. O amor de Margarida, por exemplo, é baseado em relações de interesse (quase sempre financeiro), conforme o seguinte trecho:

Margarida: se você me ensina a patinar esta tarde, darei uma coisa que você sempre desejou.
Donald: Quer dizer... ?
Margarida: Sim... A minha moeda de 1872.
Sobrinho: Uau! Completaria nossa coleção de moedas, Tio Donald!

No mundo de Disney, ser mais rico ou mais belo dá imediatamente o direito de mandar nos outros.

2. Metáforas

Patópolis representa os EUA e todos os povos não-americanos são não-civilizados, ou seja, representam o terceiro mundo. É muito fácil ludibriá-los com quinquilharias.
            Dentre as diversas morais da história, uma clássica:
“Numa aventura Donald parte para Congólia. Lá os negócios do Tio Patinhas estão sendo prejudicados porque o rei proibiu seus súditos de se darem presentes de Natal, pois todo o dinheiro deve lhe ser entregue. Ao chegar do avião, o pato é tomado por um Deus e acaba destronando o rei. Sua primeira ação é ordenar que todos comprem presentes para suas famílias. Quando os armazéns de Tio Patinhas estão vazios, Donald devolve a coroa do rei, agora mais sábio do que antes. O governante aprendeu que, para se manter no poder, precisa se aliar ao capitalismo internacional”.

3. Analogias

A luta de classe é ridicularizada, conforme a história em que um grupo de hippies está fazendo uma manifestação contra a guerra: quando Donald oferece uma limonada de graça, a passeata se desfaz imediatamente.
Donald é em várias histórias massacrado pelo Tio Patinhas, no entanto ele não se rebela. Não o faz porque tem esperança de um dia herdar a riqueza do Tio. Assim como a América latina tem esperança de se tornar um dia um país desenvolvido.

4. Controvérsias

Algumas pessoas acusaram Dorfman e Mattelart de alterarem o conteúdo de algumas das falas, conforme o conveniente em sua argumentação.
Além disso, não sabemos até que ponto essa ideologia tenha tido origem “capitalista”, visto que, aparentemente, o conteúdo ideológico de direita vinha do desenhista, Carl Barks, não do patrão. Barks odiava Marx.


Por que embutir de ideologias desenhos animados e gibis? Provavelmente para atuar como agentes do imperialismo norte-americano – segundo Dorfman e Mattelart -, ao anular a vocação revolucionária que existe em toda criança, e, deste modo, tirá-las do caminho rumo ao Socialismo.
Exagero ou não, o interessante é que, com este exemplo, ampliemos nossa percepção sobre o porquê das coisas. Não aceite nada sem reflexão e crítica.