domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sob pressão

A cada mordida
Estalo da consciência,
Tique de etiqueta.
Atitudes ousadas
E simpáticas
E curvas arenosas,
Coloridas, de mano
E mãos mágicas.
Análise da comparação,
Nostalgia.
Honestidade d’Alain,
Aperto d’Apaia. Apaiaça.





sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Amor que fica

O brilho do sol
Embasa o vulto,
Embaça a vista.
Ele ignora
O dom do astuto,
A dor do artista.


Peixinhos no mar,
Caro na rua,
Carro na pista.
Eu no intermédio,
Livro da cura,
Leio a conquista.


Isso é amor que fica:
Vá em paz,
Mas fique em nossos corações.


Rezo a Deus pra que invista
Em nossas atitudes.
Dê-me uma lista.


sábado, 8 de janeiro de 2011

Uma bossa pra você



Só, somente só
Pra escrever
Lembrar você

Com meu violão
Pra conceber
De frente ao mar

Nossas idas, nossas vindas
Nossas vidas bem vividas

A luz do luar
Inspiração
E solidão

Faço essa canção
Por entender
Meu respirar

Despedidas tão aflitas
Tuas lidas são despidas
Das escritas parecidas

As partidas tão sofridas...

Uma bossa pra você
Pa pa ra pa ra ra pa pa
Uma bossa pra você...

domingo, 14 de novembro de 2010

Qualquer Coisa


A chuva se espalha

e encolhe as pessoas.

Sob um pequeno teto pop

tudo pode acontecer.


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

PERSPECTIVISMO



Subversão,
Com sua percepção de fato, da coisa
Da pessoa.

Uma memória recente que esquece
O passado de sempre, mais
Distante.

Estranha interpretação
E construtivismo contra
Mim.

E o direito ao contraditório?
Injustiça social,
um balde de água fria.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Probabilístico




Imperfeição que se arrasta
durante a fala:
im - per - fei - ção.

De fronte, cíclico, redondo.
Limite infinito,
sem limite,
sem estímulo:
sem tesão.
Im - per -  fei -  ção.

Largura da intensidade e
erro do tipo 1.
Aí rejeito o verdadeiro,
sem mirar o ouro
estocado a esquerda
da direita, inelástico.

Erro do tipo 2,
aceito o falso.
Já tenho profissão,
mas mantenho a esperança
na variância de sua imperfeição,
não-determinística.

Sois possibilidades...

domingo, 3 de outubro de 2010

la liberté


Outro dia, revendo o documentário A Ilha das Flores, de Jorge Furtado, deparei-me com a seguinte frase de Cecília Meireles:

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Parei alguns minutos para refletir.

Indaguei-me sobre o que seria liberdade para mim, e deste modo, se sou livre (no dicionário, livre “é o estado daquele que tem liberdade”). Mas retomando o conceito de Meireles, as coisas ainda não estavam tão claras para mim.
De antemão liguei o termo às condições física e psíquica de um indivíduo, em seus diversos níveis. Sendo assim, Ramón Sampedro, personagem do filme Mar Adentro (de Alejandro Amenábar), não é livre. Muito menos alguém com morte cerebral.
Em seguida, associei liberdade à ideologia. Lembrei-me imediatamente de Guerreiro Ramos, que dizia que

“não dispõe o indivíduo do piso firme necessário para que sua identidade se desenvolva. Ele é, antes, compelido a enfrentar processos e mudanças que constituem derivativos de um movimento auto-induzido e indefinido do agregado social. O homem moderno é o tolo enganado por uma fé mal colocada. Os traços básicos da síndrome do comportamento constituem o credo não enunciado de instituições e organizações que funcionam na sociedade centrada no mercado. Não constitui mero incidente o fato de que, em toda sociedade em que o mercado se transformou em agencia cêntrica da influencia social, os laços comunitários e os traços culturais específicos são solapados ou mesmo destruídos. O mercado tende a transformar-se na força modeladora da sociedade como um todo. Conseqüência da ação da política cognitiva1.

Nós, seres humanos contemporâneos, assimilamos (goela abaixo) uma filosofia de vida de mercado. Para obtermos respeito em nossa sociedade, temos que ser produtivos, temos que ser “bons em alguma coisa”.
Existem modelos que melhoram nossa performance, que nos tornam mais eficientes: são os modelos de especialização. Adam Smith já fazia defesa de seu uso no século XVIII. Ele dizia que o país deveria enfatizar esmagadoramente na produção do recurso que tivesse maior potencial: se o Brasil possui excedente de recurso natural, não seria lógico (em termos de custo) produzir tecnologia. Se essa idéia fosse incontestável, estaríamos fadados às injustiças provocadas pelas trocas desiguais no comércio internacional. Outra crítica que se faz a esta lógica é referente ao risco. No caso de uma diversificação dos bens produzidos, o risco de quebradeira é bem menor.
Isto nos leva a outras perspectivas, postas para discussão: o não-foco e o foco espontâneo, não impostos por uma ideologia de mercado.  Minha função utilidade ou simplesmente meu nível de satisfação pode ser maior, por exemplo, quando rompo com a sociedade e não mais curso graduações e pós-graduações porque o mercado impõe ou exige; pode ser maior também no caso em que sigo este caminho porque tenho verdadeira vocação. Mas o que se vê é justamente situação que não estas duas: o número de pessoas com acesso ao ensino superior cresce, o que a priori seria fantástico. No entanto, esse dado não remete melhoria qualitativa. O que quero explicitar é que o modo de vida com foco é verdadeiramente benéfico para o espírito, nossa essência, nos casos em que a busca pelo foco é motivado por inquietude interior. Caso contrário, se o foco não pertence ao seu estilo de vida – ele é imposto pelo mercado e pela sociedade - entregue-se ao generalismo e seja feliz. Garante sua sobrevivência de forma lícita, através de qualquer ocupação, e fuja da condição de “alegre detentor de emprego, vitima patológica da sociedade centrada no mercado”. Ah! Não esquece de assistir ao filme “Into The Wild”.

¹ Política cognitiva consiste no uso consciente ou inconsciente de uma linguagem distorcida, cuja finalidade é levar as pessoas a interpretarem a realidade em termos adequados aos interesses dos agentes diretos e/ou indiretos de tal distorção.