quinta-feira, 4 de março de 2010

Religião não se discute

 
            Ouço nos bares e mesas de discussões que religião não se discute. Se isso significar que não devemos tentar convencer o outro de que sua fé está errada, tudo bem. Afinal de contas, é bom que se respeite a opinião alheia. No entanto, existem alguns aspectos religiosos que podem e devem ser discutidos.
            O fanatismo, por exemplo, às vezes se relaciona de modo peculiar com a religião. Sabe-se que o fanático, pessoa animada por um zelo excessivo, aflora algumas características do homem Hobbesiano: somos todos egoístas e competitivos e, se necessário a preservação de nossa espécie (ou de nosso grupo), somos traiçoeiros e violentos. Este tipo de sentimento pode nos deixar a flor da pele, sensíveis e perigosos.
“A crença forte só prova a sua força, não a verdade daquilo em que se crê” (Nietzsche)
Este mesmo fanatismo nos remete a outro tipo de problema: a intolerância religiosa. E parece ser razoável o argumento de Voltaire¹ de que o fanatismo religioso deve ser combatido com o pluralismo – “quanto mais seitas houver, menos perigosa cada uma será, pois a multiplicidade as enfraquece”.
Poder-se-ia perguntar: se as religiões podem aflorar sentimentos extremistas e intolerantes, não seria mais conveniente destruí-las? Creio que não, baseado na seguinte idéia: é mais plausível e útil adorar divindades do que viver de forma incrédula. O homem precisa ter esperanças e fé para ser menos pessimista e agressivo. A Lei por si só, reprime crimes conhecidos; a religião, por sua vez, reprime os crimes secretos. O Direito e a religião, destarte, se complementam para moldar o comportamento do homem, ser “imprestável” (que não presta), para que este seja capaz de viver em sociedade com o menor número de maléficos egocentrismos possíveis.
“Quando o homem não tem noções claras e sadias da divindade, as idéias falsas ocupam o seu lugar” (Voltaire)
Em busca de um sentido a própria vida – qual o motivo de se lançar ao fanatismo, que leva a destruição?
Bem, se Deus quisesse que todos obrigatoriamente participassem de seu culto, seria pelo fato desse culto ser essencial a sobrevivência de todos. Se fosse tão necessário, o culto seria realizado por Ele; se fosse tão fundamental, o culto seria uniforme por toda parte, pois todas as coisas essenciais aos homens são universais: comer, beber, respirar etc.
Analisar e questionar são deveres de qualquer um que respeita a razão. O raciocinar pela metade só leva ao fanatismo e falsas superstições, pois aquele que não aceita questionar sua fé, sem dogmas e sua religião, perdeu esta capacidade inerente a todo homem: o pensar.





[1] Voltaire: humanista liberal que estabelece um combate à intolerância e ao fanatismo. Tolerância como valor moral, defesa radical da condição humana.

Um comentário:

  1. Seria bom mesmo que cada um olhasse pra dentro de si e analisasse o que faz o coração acalmar. Ao invés disso prefere-se seguir idéias terceiras que são consideradas mais "fáceis" por serem entreguem prontas. Infelizmente a verdade é que para muitos "pensar dá trabalho, é cansativo".

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