sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sombra eterna da saudade

Ah como esse bem demorou a chegar, Dolores minhas. Aquela era pra ter sido a noite do meu bem. Mas nos corações, saudades e cinzas foi o que restou, além de Jorge. Chico me dizia “a saudade vem chegando e a tristeza te acompanha, acostume-se a elas”. Eu virava o rosto e com esforço olhava para o alto. Via a estrela solitária, Galhardiana, que no céu do meu amor, eternamente, desde que brilhou, nunca se apagou. E para quê tudo aquilo? Tudo em vão, já que desfeito o ninho a saudade, humilde e quieta ficou mostrando a felicidade que o destino desfolhou.


Recentemente, em diálogo com Nelson, desabafei que já fui moço, já gozei a mocidade, se me lembro dela, me dá saudade. Os dias se passaram e hoje, quando do sol, a claridade forra o meu barracão, sinto saudade da mulher pomba-rola que voou. Saudade que não me larga Santo Antônio, que faz com que meu mundo aqui se resuma a lembrança dos dias felizes do nosso amor. Sem ele, caro Orlando, não creio no amor nem amizade, vivo só pela saudade que o passado me deixou. Aprendi com a vida que saudade é solidão, melancolia, que nunca está e se bem diz. Pela saudade que me invade, Dalva, eu peço paz, feliz.




quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Claustrofóbico

 

Nestas bandas tem-se tudo,
todos os tipos de produtos e serviços.
Daqui pouco se sai, se necessita,
submetem-se cegamente aos valores colocados.
Num paraíso cercado de mar e morros, onde de tudo dá,
perde-se a consciência de seus verdadeiros problemas.
Claustrofóbico que sou, fujo por túneis desta zona sul, minha ex-ilha.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Jogos amorosos

Vida que palpita.

Entrecerram-se visões,
olho a olho, dente por dente;
intui-se um mar de pecados, ambos velejam;
a tramela mela tudo, percorre todas as retas e curvas;
a tromba a persegue,
como quem quer pôr tudo num frasco;
alerta-se ao sussurro, alívio perturbador.

Vida que vive.



terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Berro das Rosas

Desarmado, rendido, puro abate.

Ele espalhara pelo ambiente algumas (centenas de) pétalas de rosas, detalhes e surpresas.

Ela chegara e, chorosa, dissera que dormira com outro alguém.

Ele, vegetativo, permanecera em silêncio (instantes que mais pareciam uma vida inteira). Quando esboçara uma reação, ressoou-se: "Compreendo que todos somos falíveis... também por isso te perdoo, também por isso ainda te amo. Permaneço seu amigo, no entanto, amante, não mais".

Abraçaram-se em meio a um mar de lágrimas e deitaram-se sobre as pétalas, como que em busca de alívio para suas agonias, lado a lado e entrelaçados.

Ali mesmo adormeceram; testemunhou-se, daqui, que já não havia solidez em seu corpos. A liquidez imergente, emergente, substancia a fala e o choro das rosas.