Perspectiva do incremento (dos
múltiplos incrementos). É certo que a escassez valoriza as coisas, que os
primeiros ensaios nos dão uma sensação peculiar. Mas também a experiência é
capaz de conferir novos sabores, talvez menos intensos, mas certamente mais
detalhados. Cada diálogo (cada viagem, cada música, cada mesa de bar, cada
beijo, cada filme, cada entrelinha, cada ensinamento, cada...) nos engrandece, nos
amplia a perspectiva e de certo modo facilita a nossa relação com a próxima situação
a ser vivida. Desta vez, sem tanto pudor ou pensamentos que porventura inibam a
plenitude do momento. Não se vive com uma ampulheta de lado: o futuro é
incerto, a aleatoriedade nos concede a oportunidade de construirmos nossas
próprias memórias, sem tempo para nada (fazemos nossa hora), com tempo para tudo (basta ter
paciência). Uma semana a mais contigo (agora) não significa uma semana a menos
contigo (no futuro). Não há
complementaridade nisso, mas sim, na relação que nos cerca.
Deito-me...
Fecho os olhos... A visão embaça... Aos poucos enxergo o que me rodeia.
Chegou?
Por
favor, suba pela escada rolante, cá estou. Que a partir de agora cavalguemos
num verme, cavemos
galerias neste solo, oremos a Santa Madalena (liberdade, cultura, fé).
Quero a paz das narinas no cangote, dos corpos encaixados,
dos pés sobrepostos, do sono profundo pós-coito. Que teu cafuné me acalme o juízo, que teu
cheiro não saia de mim, que teu sorriso permaneça em meus pensamentos. Que
nosso gozo seja sempre conjunto, simultâneo, eterno. Que eu não acorde; que o
sonho não se acabe. Foi-se?
Ao longe barcos e
flores. Uma melancolia que não imaginara, por ser e ver sempre alegria. A
amizade oferece o ombro amigo, conforta e mostra uma saída: apresenta o amor. O
amor surge, inspirador, movedor de montanhas. A princípio, ele cresce e desde então
não se tem outra companhia, não se faz outra coisa. Mas a lucidez lhe passa a
rasteira, ele cai. O que acontecerá com o amor? O que acontecerá com a alegria?
O que acontecerá com a melancolia?