
“Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter”. Ouvi dizer que somos nossa memória, que somos reflexo do que nos lembramos. Nossas atitudes e personalidades implicitam nosso juízo de valor sobre as coisas - nossos pontos de vista acerca da vida. Trata-se do conjunto de experiências e rotinas que são condicionadas muitas vezes pela adaptação, necessidade, esforço...
Quem nunca ouviu uma frase do tipo “não quero que meus filhos passem a necessidade que passei”? São lembranças latentes de dificuldades e superação que refletem numa preocupação futura, para que aquilo não se repita em meio ao próprio meio.
“Meu filho será advogado quando crescer” - faço alusão à projeção. Através das nossas lembranças frustradas de não-conquistas, transferimos algo intangível aos nossos filhos: responsabilidades e prazeres relativos.
“Só lembranças e nada mais” somente na música – porque no mundo real o passado faz parte do presente. Não farei um tratado sobre o tema, mas é cabível lembrar que o passado já foi o próprio presente. Não se iluda pensando que não existe possibilidade de repetição de alguma coisa, positiva ou negativa.
Experiências – vivência e mau costume. Caso número um: sou funcionário público. Em meu trabalho, as atividades se tornam cada vez menos exigentes, visto que me adapto após certo tempo de labuta. Sem me sentir pressionado me torno um empregado menos cuidadoso. Caso dois: Sou marido. Com o passar dos anos, obtenho uma relativa estabilidade em meu casamento. Já não estou tão atencioso com minha esposa - já não estou tão vaidoso. Caso três: Sou motorista. Já faz trinta anos que dirijo! De modo tão natural, nem percebo que o faço.
A rotina nos proporciona detalhes que entranham em nosso modo de ser. Crianças podem crescer em meio a uma guerra religiosa, aceitar aquela condição como uma verdade absoluta. Lutam sem conhecer outro tipo de realidade. Vão às arenas e são condicionadas a achar natural que se mate animais por pura diversão. Pequenos passados atrelados a um grande presente e futuro.
Irrito-me ao perceber que todos se apossam de patrimônio público; irrito-me quando tentam me convencer que isso não está errado, porque “todo mundo o faz”. Eu não sou todo mundo.
Falaria ainda mais sobre mim – contudo é cansativo, o estopim; dançaria a noite toda - se não fosse essa música tola; cantaria para quem eu amasse - seria em vão. Meu passado (gênese de meus princípios) não me permite que eu seja todo mundo - minhas experiências e traumas fizeram de mim um alguém seco. Por favor, escondam a naftalina.