"Exposição da condição finita do homem - ser transitório, que vai morrer; ser que se ancora no fundo irracional do cosmo".
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Não fale sozinho num diálogo a dois
Não fale sozinho, conselho que dou. Evito fazê-lo quando converso com outra pessoa. Se por ventura isso vier a acontecer, provavelmente o meu amigo ouvinte estará morto, dormindo ou entediado. Eu, egoísta que sou, prefiro-o morto. Caso contrário teria que reconhecer que o meu discurso não é um bom discurso - e isso significaria que não convenço a ninguém. Poderiam até retrucar que o matei com tanta blasfêmia. No entanto contesto que existem inúmeras razões que poderiam explicar sua morte (talvez um infarto ou uma escorregada “na casca de banana que eu pisei”, outrora).
Prefiro, em segundo plano, que o ouvinte esteja dormindo. Afinal de contas ele faz parte da classe operária, passa o dia sendo explorado e está cansado de tanto trabalhar num sistema de produção como o nosso (salve a mais-valia). Ah! Isso se ele tiver emprego. Caso contrário não se trata de fadiga, trata-se de fome (coisa certa é que eu não sou entediante).
A terceira (e pequena) possibilidade diz respeito ao tédio gerado pelo falante (por mim). Mas isso é tão subjetivo... Estaria ele (eu) num péssimo dia, dado um problema particular? Ele é (eu sou) de fato um incompetente? Creio que seja mais fácil e corriqueiro culpar o outro, o ouvinte, que certamente não tem o mesmo nível intelectual que o meu, bom locutor. Ele não me compreende, não acompanha minhas lógicas e se cansa. É, deve ser isso.
Mesmo assim, com tantas (medíocres) explicações, não fale sozinho! Eu não falo. Já falei. Não falo mais.
Os orientais, por exemplo, crêem que a sabedoria é adquirida desta maneira: ouvindo mais que falando. Acredito nisso, então tento ter paciência para ouvir, para selecionar informações, incorporá-las e contrapô-las com sabedoria.
Liberte o ouvinte que há em você; liberte o locutor escondido no seu companheiro. Equilibre o ambiente que precisa ser equilibrado, tenha bom senso. Deixe que exista de fato um diálogo – “um diálogo de dois”.
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Adorei o texto. E eu, também.
ResponderExcluirAcho que felizes são as relações que se completam, respeitando a reserva de um e a verborragia do outro. E saber ouvir, é, sim, uma arte. Tanto quanto saber falar.
Grande abraço. Depois a gente se dialoga. De dois.
Carpe Noctem.
Caju, meu querido, você escreve muito bem.
ResponderExcluirAcho que eu preciso aprender a falar mais que apenas ouvir.
Pensarei mais a respeito!
;)
Beijo
pra vc n reclamar mais que eu nunca leio nada que vc escreve.. "apesar do fasto de ainda ter alguns textos que vc me mandou intactos na minha caixa de email" eu li esse.. e gostei muito.. parabens.. :D~
ResponderExcluirbjooo.. juô! :*
Luiz, muito bom o texto...
ResponderExcluirGostei por d+++
Naum sou muito fan do blog, porem meu comentário!
Marcia Farias (Ciencias Atuariais)
Xero!
Sabe, as vezes tenho medo de falar de mais e muitas vezes acabo falando sozinho.Gostei muito do texto e de como ele trata a preocupação com a coisa.
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