terça-feira, 12 de novembro de 2013

Descrito



Aprendizado a cada instante,
abro mão, me flexibilizo.
Terei final triunfante?
Sorriso sempre avante,
a frente sempre o sorriso.
Felicidade amargurante.

 

Datada, com hora para o Adeus,
e vivida todos os segundos,
devidamente agradecidos a Deus e todos os santos.
Tola cumplicidade, em essência,
dois mundos num só mundo:
conexão com veemência.


Transparência de sentimentos,
dependência de divisão,
de ilusórios planejamentos,
talvez não.
E o futuro triunfante, anote, 
a partir deste instante!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A face oculta do empreendedorismo

te·o·lo·gi·a 

substantivo feminino
1. Ciência da religião, das coisas divinas.
2. Doutrina católica.
3. Curso de estudos teológicos.
4. Tratado de Deus.
5. Reunião de teólogos.

"teologia", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/teologia [consultado em 27-09-2013].

O historiador Leandro Karnal afirma que toda teologia apresenta o certo e o errado, aponta quem erra (portanto, o pecador). Geralmente propõe alguma prática religiosa, apresentada e executada em reuniões, guiada por um sacerdote e pela fé. Durante o rito, alguém fala, outros repetem e acima de tudo é importante parecer feliz, afinal de contas a teologia promete a felicidade.
Quando trata da teologia contemporânea, Karnal a classifica em:
1) Teologia da Autoajuda;
2) Teologia das Religiões Neopentecostais;
3) Teologia do Empreendedorismo.

A Teologia da Autoajuda parte do pressuposto que o indivíduo tem que se amar, deve ser positivo, já que o que se imagina de fato acontece. Trata-se de uma teologia vaidosa, que em muitas vezes só ajuda a quem escreve o livro.
A Teologia das Religiões Neopentecostais é uma espécie de teologia da prosperidade, que afirma que ao invés de somente mentalizar (o que ocorria na teologia anterior), o indivíduo deve rezar para resolver os seus problemas. Além disso, a aquisição da fé o tornará bem-sucedido, pois Deus é vencedor e não sofredor (como fora em outros tempos).

em·pre·en·de·do·ris·mo 
(empreendedor + -ismo)

substantivo masculino
1. Qualidade ou .caráter do que é empreendedor.
2. Atitude de quem, por iniciativa própria, realiza .ações ou idealiza novos métodos com o .objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer .atividades de organização e administração.

"empreendedorismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/empreendedorismo [consultado em 27-09-2013].

A Teologia do empreendedorismo, por sua vez, afirma que sucesso é um destino, é a chave do futuro, é tudo. Esta é a mais capciosa das ideologias, pois sustenta a ideia de que “se eu fracassei, a culpa é minha”. É como se somente a coragem, a ousadia e a iniciativa fossem capaz de tornar um indivíduo vitorioso. Para este tipo de teologia o inferno é o fracasso.
Mas este pensamento é exatamente o contrário do que muitos estudos associados à economia experimental e comportamental apontam. Leonard Mlodinow afirma que a mente humana foi construída para identificar uma causa definida para cada acontecimento, podendo assim ter bastante dificuldade em aceitar a influência de fatores aleatórios ou não relacionados. Ou seja, é importante notar-se que o êxito (ou não) pode não surgir de uma grande habilidade (ou da falta dela), e sim, de “circunstâncias fortuitas” (Armen Alchian).
A subversão, na Teologia do Empreendedorismo, é tamanha. Ela faz com que muitas pessoas se espelhem em determinadas referências, tais quais Steve Jobs e Eike Batista, que por vezes fizeram coisas ilícitas ao longo de suas vidas, em busca de suas respectivas ascensões. Mas isso parece não ter tanta importância, tais atos não são pecados (por conseguinte condenáveis), são sinais de empreendedorismo (de admiração).
É possíveis identificar-se com facilidade a existência desta teologia, por exemplo, através da observação de determinadas publicações, dentre elas:
1) “O Monge e o Executivo”, como encontrar seu sucesso através de uma prática;
2) “Empreendedorismo Dando Asas ao Espírito”, cujo título e conteúdos são religiosos, mas substitui-se Deus pelo Empreendedorismo.

A sensação que se tem ao fazer a leitura desses materiais é a de que se todos forem empreendedores, todos serão bem-sucedidos como o Eike. Mas a própria teoria econômica sabe que não é exatamente assim que tudo funciona. O problema do desemprego no Brasil não depende somente da qualidade da oferta de mão-de-obra, mas também da oferta de empregos, do nível de crescimento da atividade econômica, da demanda por bens e serviços, dentre outros fatores. Em pouco tempo, com o nosso atual nível de profundidade, crítica e discernimento, o empreendedorismo vai passar de teologia a teleologia.

Quereria

Quereria te ver

Olhar diretamente em seus olhos

Quereria te ver

Mirar-te ao longe, ir ao teu encontro

Quereria te ver

Para enfim poder te vislumbrar, abraçar

Quereria te ver

Prazer entrever, te conhecer

Quereria te vir,

Puxar-te até aqui,

Proferir: fique com Deus,

Beijo na família

domingo, 22 de setembro de 2013

Odair José às avessas


Que saudade de mim!





Bem-vinda


Mancha que se mistura ao meu corpo e alma, minha essência, meus sentimentos, meu comportamento, minha música, meus cosmos. 

Seu Francisco e a Oração de um Jovem Triste


Muitas histórias dos bares que frequentara, sendo umas das mais ilustres as que envolviam a presença de Antônio Marcos, romântico desiludido, alcoólatra e fumante. Sentia-se sua tosse, seus pulmões, seus pólipos, sua angústia...

E foram-se os homens.

E FIQUEM COM DEUS.

Tabuleiro


Os peões, aos montes e passo a passo, lenta e maciçamente, partem no pelotão da frente. Caso sobrevivam, podem chegar ao alto escalão;

A torre, de vigor vertical e horizontal, caminha o quanto se quer, na defesa, no ataque, abertura do alçapão;

Os surpreendentes cavalos, que por sobre os outros obrigam o movimento do rei-opositor;

O bispo, que diagonalmente faz o sinal da cruz, ora e atua nas cruzadas, bem-feitor;

A (primeira-)dama, a melhor e mais gostosa de todas as peças, faz o que quer;

Mas no fim das contas é a queda do rei que decreta o fim da guerra, mesmo sem querer.

Adeus batucada


Acordo. Hoje resolvo não fazer nada que costumo fazer todos os dias. Não escovo os dentes, não tomo banho: enfrento a sujeira. No café da manhã, sirvo-me de uma caneca de cerveja importada bem gelada para afrontar a lucidez. Os telefones tocam e continuam a tocar, não atendo com o intuito de encarar a solidão. Saio de casa, caminho solitariamente e vou a lugares altos, encaro o medo de altura, da vertigem. Não ouço a música que tanto amo num só minuto deste dia, um embate com a falta da arte que me seduz. Não faço o que os outros querem, contesto tudo e a todos em nome da minha autonomia autodestrutiva. Até que decido dar fim a minha vida.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Salve o meu carnaval














Amparo e me deparo
com a tua fé, no fim da fileira,
ao pé da ladeira da Sé.
Misericórdia mamulengo,
tenha dó dos bonecos de Olinda
e do Homem-da-Meia-Noite,
que sorriem todo tempo
pela felicidade do carnaval.
Sem pausa para a tristeza,
folclore do Maracatu Rural
pelos Quatro Cantos do mundo,
onde sequer descanso, sigo o ritual.
Aceito meu carma de Papangu;
encontro-te no Carmo, angu meu.

Trechos de um soneto

De início, pronta sintonia, alquimia
de perto e ao longe, quantas conversas!
Versa que o carinho transcorria,
viria a calhar e até hoje não cessa!


(...)

Saudade que dá, que se sente -
longitude, aperto cônscio no coração -
de repente, não mais que de repente.

Tu és

Do peso emotivo que te constitui, do rigor formal;

densidade que pensa maduramente, mérito sintático.

Como o Livro de Sonetos, naturalmente ático;

não se esgota, ao contrário, aguça-se a vibração aural.


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Do fundo do mar

Queria cantar enquanto submerso,
comunicar-me do fundo do mar.
De lá, pensaria na arte de rua,
no muro das lamentações
e questionaria: por quê?
Soltaria pipas coloridas
que combinassem
com os raios
de sol.
A noite,
escuridão
nas profundezas
do mar calmo, apenas
a buzina do navio, o apito
do trem e o vigor de querer,
melancolia transcendente de um
ordinário, louco pelo espírito animal.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Tudo que se planta dá

                              Pareadas nos cosmos -
                asteráceas de jardim -
                                                           estrelas em solo arenoso,
de corpo barrigudo que as sustentam.
           Suas raízes, tão altas,
                                                 formam, com a forma de seu caule,
aquela sensação de solidez;
                                 sua cor, tão rosa,
destoa e é, portanto,
                                embate relativo ao restante do ambiente.
Árido e semiárido, no entanto,
                                              sorriem da beleza oriunda
             de muito sol e pouca água:
                    a flor do sertão, a rosa do deserto.



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sem título

Lá do alto
só ar intragável,
que não se respira;
os olhos ardem, nada se vê,
só se sente o bafo gelado no cangote
e a vontade da morte; o ar não propaga o som,
inicia-se o isolamento. Perdido no céu, salvo pelo inferno.

Paraty




I

Logo de cara o vento frio,
uniformidade cinza no firmamento;
marés inundam corredores históricos de
Paraty.
Contrastam, pois, com os coloridos balões
que saíram apenas da imaginação,
mas não possuem contexto,
nunca voaram.


II

Uma a uma, lado a lado,
cálices rubras e amarelas,
bem abertas, murcham  
e assumem coloração vermelho-vinho,
feito balões chineses
que brotam no jardim da pousada
em que repousam
os viajantes.


III

Montanhas irlandesas
(de verdes tão lindos)
temperadas por fumaças de névoas,
que ocultam as escadas que nos levam ao paraíso,
cume por dentre as nuvens,
de sobreposições diferentes:
na frente, nimbos;
por cima, neblina.


IV

Senzala - habitação, povoação
e residência de casas antigas
em ruas de pedra, batentes altos
e portas
e janelas de madeira.
Provocam mau jeito nos pés,
curados com facilidade
pelo samba das baías (olê lê, olá lá).


V

E tome rechaça
e cachaça para afogar
as mágoas
e comemorar
os doces da vida:
caçarola, quebra-queixo,
pra tudo na vida tem um jeito.
Amiúde, alude,
viva a brasilidade!


VI

Esse ar de colônia,
de escravidão, preto,
de alusão ao Imenso Portugal,
de batuques, corredores,
de capoeira, embolada,
de emboscadas e de revoltas
desenhadas em mapas
e guias para turista ver.



O gigante acordou



Hoje acordei querendo provar
não a práxis da madura teoria,
não a ideologia caduca do pragmatismo.
Acordei querendo persuadir
os mais eloquentes debatedores,
silenciar ainda mais os mortos
(e cantar para quem interpreta, compõe).
Quimera, quem me dera,
Confiança que se impõe.
Hoje eu acordei feliz.


quinta-feira, 14 de março de 2013

Ensaio de impressão



Gerador de potencial de ação;
Estímulo elétrico no córtex,
da percepção, consciência,
impulso, transmissão.

De gosto requintado, fino.
Que sabe e quer conhecer ainda mais,
as cordas do violão, volição,
as cordas do violino.
Nas cadeiras da Escola, leitura,
para além do mecanicismo,
os pensamentos simples e complexos,
o dualismo, o rearranjo da partitura.

E quando revejo, represento a luminância
em meu campo receptor: imagem de
muita energia, calor, formas
digital e analógica, significância.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu


Nossos problemas são os maiores, mas a grama do vizinho é mais verde.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Sem rancor


Confesso que acho certos hábitos foda.

     Conhece-se um certo alguém, compartilha-se uma intimidade efetivamente personal, vivenciam-se momentos únicos (viagens, filhos, superações etc.) e... Ok. No fim das contas tudo acaba. Até aí compreensível, diversos interesses estão em jogo, não é fácil lidar com tudo isso.

De fato é certo acabar, de um jeito ou de outro.
De fato é mais provável o rompimento.
De fato é mais racional o interesse individual.

      O que acho estranho é que depois da separação o antigo casal finja que o outro não exista, ou, ainda, se cumprimentem de modo tão escasso e superficial.
      Ok, alguns dirão que na maioria dos casos o rompimento não foi consensual, alguém machucou outro alguém. Deste modo o agente machucado tende a se fechar (se defender) ou o agente machucador acaba dando espaço para que o outro se recupere. Não quero discutir essas possibilidades, no entanto.
      Outros dirão que é difícil delimitar a fronteira entre o amor e a amizade. Ainda assim, acho esquisito quando duas pessoas, que recuperadas de suas desilusões, ajam do mesmo modo que os atuais sofredores. Isto é, ex sofredores, atuais sofredores... todos no mesmo barco, o dos que não conseguem sobrepor as boas recordações.
      
Mas posso dizer que conheço alguns poucos casos onde o antigo namoro virou uma boa amizade.

      Entretanto, será que existe diferença entre a maioria dos ex-amantes? Será que grande parte dos antigos sofredores de fato são antigos? SofrIDOS...

A mesma coisa



Local família, disforme.


O que vale é o que importa, o aparente não lhe pertence.


A língua, contudo, continua afiada; a autoconfiança que é menor.