te·o·lo·gi·a
substantivo feminino
1. Ciência da religião, das coisas divinas.
2. Doutrina católica.
3. Curso de estudos teológicos.
4. Tratado de Deus.
5. Reunião de teólogos.
O
historiador Leandro Karnal afirma que toda teologia apresenta o certo e o errado,
aponta quem erra (portanto, o pecador). Geralmente propõe alguma prática
religiosa, apresentada e executada em reuniões, guiada por um sacerdote e pela
fé. Durante o rito, alguém fala, outros repetem e acima de tudo é importante parecer
feliz, afinal de contas a teologia promete a felicidade.
Quando
trata da teologia contemporânea, Karnal a classifica em:
1) Teologia da Autoajuda;
2) Teologia das Religiões Neopentecostais;
3) Teologia do
Empreendedorismo.
A
Teologia da Autoajuda parte do pressuposto que o indivíduo tem que se amar,
deve ser positivo, já que o que se imagina de fato acontece. Trata-se de uma
teologia vaidosa, que em muitas vezes só ajuda a quem escreve o livro.
A
Teologia das Religiões Neopentecostais é uma espécie de teologia da
prosperidade, que afirma que ao invés de somente mentalizar (o que ocorria na
teologia anterior), o indivíduo deve rezar para resolver os seus problemas. Além
disso, a aquisição da fé o tornará bem-sucedido, pois Deus é vencedor e não sofredor
(como fora em outros tempos).
em·pre·en·de·do·ris·mo
(empreendedor + -ismo)
substantivo
masculino
1. Qualidade ou .caráter do que é empreendedor.
2. Atitude de quem, por iniciativa própria, realiza .ações ou idealiza novos métodos com o .objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer .atividades de organização e administração.
A
Teologia do empreendedorismo, por sua vez, afirma que sucesso é um destino, é a
chave do futuro, é tudo. Esta é a mais capciosa das ideologias, pois sustenta a
ideia de que “se eu fracassei, a culpa é minha”. É como se somente a coragem, a
ousadia e a iniciativa fossem capaz de tornar um indivíduo vitorioso. Para este
tipo de teologia o inferno é o fracasso.
Mas este
pensamento é exatamente o contrário do que muitos estudos associados à economia
experimental e comportamental apontam. Leonard Mlodinow afirma que a mente
humana foi construída para identificar uma causa definida para cada
acontecimento, podendo assim ter bastante dificuldade em aceitar a influência
de fatores aleatórios ou não relacionados. Ou seja, é importante notar-se que o
êxito (ou não) pode não surgir de uma grande habilidade (ou da falta dela), e
sim, de “circunstâncias fortuitas” (Armen Alchian).
A
subversão, na Teologia do Empreendedorismo, é tamanha. Ela faz com que muitas
pessoas se espelhem em determinadas referências, tais quais Steve Jobs e Eike Batista,
que por vezes fizeram coisas ilícitas ao longo de suas vidas, em busca de suas
respectivas ascensões. Mas isso parece não ter tanta importância, tais atos não
são pecados (por conseguinte condenáveis), são sinais de empreendedorismo (de
admiração).
É possíveis
identificar-se com facilidade a existência desta teologia, por exemplo, através
da observação de determinadas publicações, dentre elas:
1) “O Monge e o Executivo”, como encontrar
seu sucesso através de uma prática;
2) “Empreendedorismo Dando Asas
ao Espírito”, cujo título e conteúdos são religiosos, mas substitui-se Deus
pelo Empreendedorismo.
A
sensação que se tem ao fazer a leitura desses materiais é a de que se todos
forem empreendedores, todos serão bem-sucedidos como o Eike. Mas a própria
teoria econômica sabe que não é exatamente assim que tudo funciona. O problema
do desemprego no Brasil não depende somente da qualidade da oferta de
mão-de-obra, mas também da oferta de empregos, do nível de crescimento da
atividade econômica, da demanda por bens e serviços, dentre outros fatores. Em
pouco tempo, com o nosso atual nível de profundidade, crítica e discernimento,
o empreendedorismo vai passar de teologia a teleologia.